“Porque sem mim nada podeis fazer”. (João: 15,5)

Publicação 01-11-2012

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Este versículo é encontrado apenas no evangelho de São João. Eu penso que o motivo que levou São João a escrevê-lo em seu evangelho foi o de descobrir o “por que”, o “significado” de sua vida. 
   João era discípulo de João Batista, era um jovem vivendo em meio a uma sociedade perversa, vivendo os conflitos de sua época. João retirava-se para Betânia, além do Jordão, onde João Batista batizava para ouví-lo pregar. Eu penso que João tinha muitas aspirações para a sua vida. Com certeza passava por sua cabeça várias profissões, caminhos a seguir, até que, num belo dia João ouve seu meio xará pregar. E a autoridade com que ele pregava e a radicalidade do evangelho vivida na pele por aquele homem causaram um impacto profundo no coração daquele jovem. Ele vê um homem diferente, que quis se retirar do meio daquela sociedade para viver a solidão no deserto, um homem que vivia um jejum e abstinência constantes, que se vestia de peles de carneiro, comia gafanhotos e bebia mel. Um homem que escandalizava com a sua maneira de viver, um homem cujas palavras eram fortes e penetrantes, um homem revestido de autoridade, um verdadeiro profeta e pode se dizer que “entre os filhos das mulheres não surgiu outro maior que João Batista.” (Mt: 11,11a)
   O que os olhos de João vêem chacoalham a sua alma. Todas as suas aspirações, seus objetivos e suas idéias se evaporam e perdem o sentido diante da radicalidade do “profeta do deserto”. Eu penso que as palavras e o jeito de João Batista viver“latejavam” dia e noite no coração e na mente daquele jovem. No fundo, no fundo ele vê naquele profeta a ousadia e a coragem que ele buscava e o mesmo desejo do seu coração.
   João fica perplexo com aquele jeito de viver Deus. Bem diferente dos Fariseus, dos Saduceus e de todos os “eus” daquela época. Eles gostavam dos aplausos, dos primeiros lugares, dos títulos e de serem reverenciados e honrados. Traziam a palavra de Deus apenas e unicamente em suas insígnias e suas roupas; enquanto João Batista ela estava impregnada em seu coração.
   João Batista veio preparar o caminho do Senhor e, fez isto muito bem na vida de João, mas, João ainda carregava em seu coração uma interrogação: “Por quem ele vive assim?” “De quem ele fala?” “Quem será Ele”?
   Então certo dia João ouve o profeta do deserto dizer: “Eis o Cordeiro de Deus.” (João: 1,36)  Em seguida aponta para um “Nazareno”. João olha e vê Jesus de sandálias e roupas simples como as suas e passa a acompanhá-LO com o seu olhar. O coração de João bate lentamente, ele engole seco o nó da garganta, suas mãos estão suadas e trêmulas. Ele olha cada traço de Jesus. Suas interrogações se acabam e o seu coração agora em paz, responde: “É Dele que João Batista falava, é por Ele que ele vive! Jesus é o Cordeiro! Ele é o Messias!” João compreende o significado de sua vida: “JESUS”!
   Nos outros três evangelhos aparece de maneira clara Jesus convidando João para seguí-LO. Já no evangelho escrito pelo próprio João não há este convite. Sabe por quê? Porque João já havia sido convidado por Jesus através da pregação de João Batista!
Jesus já havia ganhado o coração de João antes mesmo de encontrar-se com ele.
   Eu penso que as palavras de São Paulo, contidas na carta aos Filipenses, no capítulo 3 versículo 9: “Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo e estar com Ele”, expressariam muito bem os sentimentos de João.
   João foi sendo forjado e modelado discípulo pelas palavras fortes e pela radicalidade daquele profeta. O que faltava a João era apenas a sua decisão final, pois as suas escolhas diárias direcionaram-no para aquele momento. O momento principal de sua vida; a escolha final! Se João se levantasse dali para ir ao encontro de Jesus ele não poderia mais voltar atrás, seria para sempre. E seu pai, sua mãe, sua família, seus amigos, a pescaria, o seu futuro…, muitas coisas estavam em jogo. João havia presenciado o profeta viver a renúncia constantemente no deserto, agora era com ele. Ele era quem precisava renunciar. O próprio olhar de Jesus para João lhe dizia“Se alguém vier a mim sem me preferir ao seu pai, à sua mãe, à sua mulher, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até a própria vida, não pode ser é meu discípulo.”     (Lc: 14,26) 
   Era a decisão da sua vida, implicaria em todo o seu futuro. Ele precisava de coragem. Eu penso que João sabia da sua fraqueza, mas, confiava num poder que não é daqui, mas do alto. Então ele se levanta e se aproxima de Jesus. E Jesus vendo que ele se aproximava pergunta-lhe: “Que procurais?” (João: 1,38) A pergunta de Jesus foi direta e penetrante. O que você procura?
João responde: “Rabi, onde moras?” Ao chamá-LO de Mestre Jesus já percebe:“ganhei o coração de João”!
   João vai para a casa de Jesus e fica com Ele aquele dia. Imagine a conversa, João contando toda a sua estória de vida: “Eu era pescador. Vivia com um vazio no coração, aí encontrei João Batista. O jeito de ele pregar mexeu comigo, eu fiquei doido!” ( Jesus pensa: é o meu primo é FOGO!) João prossegue: “eu adoro um robálo assado com um bom vinho e ele come gafanhoto e bebe mel! Eu gostava de me vestir bem e andar na moda; e ele se veste de pele de carneiro! Quando percebi eu já não conseguia mais parar de ouví-lo, aí eu te vi e percebi que Tu eras o que eu procurava! Estou apaixonado por Ti! E agora estou aqui, diante de Ti, eu e minhas fraquezas. Jesus interrompe João e diz assim: “…sem mim nada podeis fazer.” (João: 15,5c)  E Jesus prossegue: vai ter um casamento aqui perto, em Caná. As pessoas são conhecidas da minha mãe, você vem comigo? João acena a cabeça com um sinal de sim.
   Já no casamento em companhia de Jesus, João percebe uma agitação na cozinha e derrepente ouve alguém dizer a mãe de Jesus: acabou o vinho!
   João enfia a mão na sua bolsa, mas, não têm nada, só escamas velhas de peixe. Então leva as mãos nos bolsos de sua túnica, mas, nem uma dracma, quanto menos um denário. João pensa: será que eles vão fazer uma vaquinha? Xiii! Eu ainda não recebi o dinheiro daqueles peixes que vendi para o senhor Jacó do armazém. E logo hoje que saí com o mestre, era a minha chance de impressioná-LO. A tensão de João é quebrada pela voz doce e suave de Maria, a mãe de Jesus, que diz aos garçons:“fazei o que Ele vos disser.” (João: 2,5) Jesus olha pra João e sorri discretamente.      
   Enquanto isso voltam os garçons com as 6 talhas de água que Jesus havia-os mandado encher. João olha tudo aquilo e desconfiado pensa: Ele vai servir água? Tudo bem que o povo já bebeu bastante, iria dar uma hidratada, mas água é água né? Não tem gosto, só dá para matar a sede, e além de tudo a sede do povo é de vinho e não de água.
   Jesus olha novamente para João e sorri. Olha para as talhas com água e em seguida olha para os garçons e diz: “Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes”. (João: 2,8)
   João olha desconfiado e pensa: é vai ser água mesmo.
   Jesus diz a João: vamos beba “Boanerge”, você não está com sede?
   João prova e fica surpreso com tudo aquilo e exclama: é vinho! Então todo desconcertado João diz: perdoa-me Mestre, eu sou pecador! Eu queria impressioná-lo, mas, só tenho minhas misérias. Não sou digno de estar aqui.
   Jesus olha para João e diz: “Me dá a sua água que eu devolvo o vinho.” Porque como eu já lhe disse João: sem mim nada podeis fazer.

Jedidiá Jesus quer apenas a sua água, nada mais. Ele vai te dar esse vinho novo, peça e Ele te dará.
Ricardo Corrêa